terça-feira, 22 de junho de 2010

Gravidez na adolescência

Tem sido tarefa difícil explicar a causa de existir tantas adolescentes grávidas, e seu crescente número a cada ano. De um lado, alguns profissionais apontam para a falta de informação, de outro, a questão centra-se numa busca pela identidade por parte dos adolescentes. Cabe o estudo e a reflexão acerca das várias possibilidades que levam à gravidez na adolescência.

Kalina (1999) define que na adolescência, ocorre uma profunda desestruturação da personalidade e que com o passar dos anos vai acontecendo um processo de reestruturação. Baseado nos antecedentes histórico-genéticos e do convívio familiar e social, e também pela progressiva aquisição da personalidade do adolescente, é possível entender que esta reestruturação tem em seu eixo o processo de elaboração dos lutos, a cada etapa deixada sucessivamente. A questão familiar e social funciona como co-determinante no que resulta enquanto crise, especialmente, à conquista de uma nova identidade.

O amadurecimento sexual do adolescente, de acordo com Tiba (1996), acontece de forma rápida, simultaneamente ao amadurecimento emocional e intelectivo, iniciando então, o processar na formação dos valores de independência, que acaba por gerar pensamentos e atitudes contraditórios, especialmente quanto a parceiros e profissões.

Aberastury (1983) diz se tratar de uma luta difícil para o adolescente encontrar uma identidade, que ocorre num processo de longa duração, além de lento, neste período, em que os jovens vão construindo a base final da personalidade, de seu perfil adulto. Este processo acontece por meio de tentativa e erro, em sua maior parte, buscando o verdadeiro eu, e acaba por sofrer agonias e dúvidas, querendo ser diferente do que fora em sua infância, num buscar uma identificação própria e diferente.

Podemos encontrar em Osborne (1975) aspectos importantes sobre pais que valorizam a autonomia e a disciplina no comportamento, estimulam mais o desenvolvimento da confiança, da responsabilidade e da independência. Pais que são autoritários, os quais tendem à repressão dos desacordos, porém não podem exterminá-los, e os filhos adolescentes provavelmente acabam sendo menos seguros, pensando e agindo pouco por si próprios. Pais negligentes ou permissivos que não oferecem o tipo de ajuda que o adolescente precisa; permitem que seus filhos percam o rumo, não oferecendo a eles modelos de um comportamento adulto responsável.

Vemos então, a enorme responsabilidade educacional durante o processo de adolescência, e Sayão (1995) confirma tal postura com relação aos filhos, que crescem e aos pais cabe a preparação sobre as mudanças no corpo e o aprendizado de como lidar com a questão sexual, usando de honestidade e se preocupando em transmitir valores, além das regras.

Ao tratarmos sobre prevenção da gravidez, podemos encontrar pesquisas realizadas através de universidades ou do ministério da saúde brasileiro, onde revelam constantemente que grande parte da população tem tido a informação básica necessária sobre o uso de anticoncepcionais, e que apesar dos adolescentes possuírem este conhecimento, acabam mantendo um relacionamento sexual sem tomar os cuidados necessários e assim, como que numa “loteria”, engravidam inesperadamente.

Se por um lado encontramos uma boa dose de informações que chega até os jovens, por outro, percebemos a constante falta de diálogo entre pais e filhos, não bastando apenas dizer ao adolescente para que use preservativo, mas também esclarecendo sobre as decorrências possíveis, lembrando que uma relação afetiva e estável tem maiores chances de entendimento neste diálogo. Os pais precisam se preparar com conhecimento a respeito, trabalhar melhor sua participação em assuntos “delicados” e, acompanhar equilibradamente a vida de seus filhos.

Outro ponto reforça a estatística sobre gravidez na adolescência, que conforme Varella (2000) nos aponta que, os dados da Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde do Brasil, feita em mil novecentos e noventa e seis, indicaram que quatorze por cento das meninas nesta faixa etária já tinham um filho, no mínimo. Entre as parturientes que foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde, entre os anos de mil novecentos e noventa e três e mil novecentos e noventa e oito, teve um aumento de trinta e um por cento dos casos de meninas entre dez e quatorze anos.

Conforme Duarte (1997), podemos compreender que a gravidez na adolescência não é um episódio, mas um processo de busca, onde a adolescente pode encontrar dificuldade e acaba por assumir atitudes de rebeldia. As pesquisas realizadas pela Secretaria de Saúde de São Paulo, mostram que o aumento do crescente número de gravidez na adolescência não é a desinformação. Albertina revela que os depoimentos das adolescentes são surpreendentes. "É comum ouvir das meninas, que engravidaram porque se sentiram abandonadas, ou tinham medo de ficar sozinhas, ou precisavam fazer alguma coisa na vida."

Parece que já nos habituamos a este fato, jovens com tão pouca idade se tornando “mãe”, no sentido biológico, mas existindo pouco preparo ou estrutura, evidentemente. Como é possível, jovens nesta faixa etária estarem preparadas para cuidar de outro ser que requer tantos cuidados? Se o adolescente ainda se encontra em reestruturação da personalidade, levando-se em conta o aspecto emocional e financeiro, além da experiência de vida necessária, como poderá atuar como alguém que necessita oferecer apoio e estruturação a outro?

Sabemos o quanto é importante passar por todas as fases naturais que a vida oferece, como a infância, a adolescência, a fase jovem, adulta e a velhice, períodos onde desenvolvemos estruturas que se auxiliam uma após a outra.

Costa (1997) relata sobre a criança de hoje, que é bastante precoce nas questões da sexualidade, por meio de sua curiosidade em querer conhecer como se formam os bebês e como ocorre a intimidade sexual. Há muitos casos onde as crianças com idade a partir de seis anos, que já desejam olhar revistas de mulheres nuas. Nesta esfera encontra-se a liberação sexual vivida atualmente, a qual contribui para o aumento do número de adolescentes grávidas.

Aumentar a freqüência de informações dentro das escolas, através das aulas é uma boa forma colaboradora, até que este assunto se incorpore definitivamente em nossa cultura, que apesar de “moderna”, ainda é cheia de tabus e preconceitos.

Se a televisão em seus diversos horários, inclusive os de grande audiência, transmite cenas de erotismo e sensualidade, pode também apresentar cenas de prevenção e cuidados a este respeito, em boa dose e intensidade, não apenas em alguns momentos especiais, aumentando conseqüentemente, o estímulo a esta prática fundamental de prevenção, que se dá muito por meio da vontade.

Chamamos atenção para várias adolescentes que engravidaram, e alegaram que mesmo tendo conhecimento sobre o tema, não sabiam explicar o fato de não terem se prevenido, deixando o momento da relação aos cuidados da sorte.

Uma sensação maior parece tomar conta e assim não se pensa em mais nada; apenas acontece a relação. Isto se dá pela falta de maior consciência a respeito. Neste período de adolescência, no qual o jovem acredita estar pronto para o mundo, e é nesta “coragem” que segue avante, mas ainda lhe falta conhecimento e experiência, inevitáveis para lidar melhor com os fatos importantes da vida.

Outra situação, como lares desestruturados, pode levar um adolescente a procurar companhia num filho (Duarte, 1997), por não ter tido uma boa infância, indicando, mais um item na lista dos agentes que fomentam este acontecimento que vem crescendo em nossa época, e cabe refletirmos muito e agir ainda mais para equilibrar o que a natureza nos concedeu: a continuidade da vida, na hora mais adequada possível, onde um mínimo de estrutura esteja presente na relação de um casal que pretende gerar e cuidar de tamanha preciosidade: o seu filho, ou seja, nós, seres humanos.

Dos pontos sinalizados enquanto possibilidades causadoras, e desencadeantes da gravidez na adolescência, entendemos que, este período de transição, pelo qual passa o ser humano, é carregado de transformações físicas e psíquicas, viabilizando uma instabilidade na estrutura da personalidade. Outro fator relevante é a informação que orienta quanto aos cuidados sexuais, a qual mantém o seu grau de importância, e deve fazer parte do contexto educacional a fim de se incorporar, cada vez mais, nos hábitos cotidianos da população. Encontramos ainda, a enorme exposição a estímulos na área sexual, a que as crianças se encontram constantemente e as respostas que emitem, além de gerar uma precocidade em suas atitudes neste mesmo campo. Por outro lado, há uma batalha imediata, ligada à conscientização dos jovens quanto às questões emocionais e sociais que podem levar a gravidez como forma equivocada de gerar identidade nesta fase do desenvolvimento, tão repleta de tribulações e conflitos mediante as sucessivas mudanças que ocorrem, e ainda, ser um projeto de vida para substituir a falta de perspectiva profissional, fazendo do futuro, uma visão de poucas possibilidades de crescimento em várias esferas, a exemplo da educação e cultura. Este exercício de estimular a reflexão e trazer maior consciência, pode ser feito por profissionais que atuam na área social e da saúde; por uma parcela da população que já se encontra com boa experiência de vida e abre espaço para discuti-las; professores que desenvolvam dinâmicas de grupos, e ofereçam canal aberto para uma conversa de linguagem fácil e objetiva, sejam por meio de seus centros comunitários, nos bairros onde moram, sejam pelas escolas.


http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0178

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